Nota de solidariedade e alerta
Ao longo dos últimos anos vivemos um período de estiagens importantes em todo nordeste, não no sentido de uma ausência de chuvas, mas na diminuição pluviométrica no período do ano em que costumeiramente é considerado chuvoso e que há uma considerável diminuição das temperaturas na região. No entanto, neste ano esse período de chuvas tem voltado de modo importante para diversas populações, tanto para aumentar o nível de água nos reservatórios quanto, de certo modo, a agravar condições de vulnerabilidade de uma parcela importante da população pobre que vive em territórios pouco assistidos pelo poder público ou mesmo em situação de rua.
Isso é importante à medida em que, frente aos diversos estudos e pesquisas realizadas na área, não podemos mais considerar que desastres e alagamentos causados pela incidência das chuvas em nossas cidades ocorram de modo naturalizado, como um evento da natureza, sendo o poder público e a sociedade civil organizada irresponsabilizadas sobre tais questões. Atualmente, temos em Maceió um número importante de pessoas em situação de rua que nesse período vive sérias de dificuldades relacionadas ao abrigamento em ocasião das chuvas e a falta de agasalhos que os mantenham aquecidos e protegidos de modo a não agravar problemas de saúde diversos.
Por meio desta nota buscamos nos solidarizar com essa condição e ao mesmo tempo alertar à sociedade civil e organizada, além do poder público, para a possibilidade de construção de intervenções a curto e médio prazo junto a essas populações consideradas e construídas como vulneráveis. É insustentável que ano após ano essas situações continuem repetindo e ocorrendo com tamanha naturalidade. Precisamos construir cidades que abriguem e protejam as diversas formas de vida, respeitando e favorecendo a diversidade de modos de existência sem impedir ou violar os direitos de uso e ocupação do espaço público urbano por questões relacionadas a marcadores sociais, étnicos e econômico-financeiros, bem como territoriais, que possam fragilizar e confrontar tais vidas de modo opressivo e violento.
Portanto, tratamos de um alerta não somente sobre as condições pluviométrica e de fragilidade para essas populações nesse período de chuvas em Maceió, mas principalmente aos modos como a naturalização dessas condições e fragilidades são um problema grave que devemos enfrentar em nossas cidades.
Esperamos construir conjuntamente condições de combate dessas questões.
Assinado por:
GT Pop. Rua da Comissão de Direitos Humanos do CRP-15;
Movimento Nacional da População de Rua em Maceió-AL.