Para colaborar no enfrentamento ao racismo, na ampliação da discussão do racismo junto à categoria e na construção de uma rede de psicólogas (os) negras (os) e pesquisadoras (es) das relações raciais e subjetividades foi criada a Articulação Nacional de Psicólogas (os) Negras (os) e Pesquisadoras e Subjetividade(es) – ANPSINEP.
Para marcar o Dia de Zumbi dos Palmares, celebrado hoje, 20 de novembro, e com a necessidade do resgate das dívidas históricas do Brasil na relação com os negros, a ANPSINEP lança seu site, que concentra conteúdo sobre a temática, além de trazer informações sobre eventos da área. Conheça a página em http://anpsinep.cfp.org.br
A data faz referência à morte do líder negro, Zumbi dos Palmares, em 20 de novembro de 1695, e lembra a resistência do negro à escravidão, desde o primeiro transporte de africanos para o solo brasileiro, em 1594. Especialmente na última década, o Movimento Negro tem se inserido cada vez mais na esfera político-social e na Psicologia.
A fim de avançar no tema dentro da categoria, o CFP criou a resolução nº 18, em 2002, que estabelece normas de atuação para psicólogas e psicólogos em relação ao preconceito e discriminação racial. O dispositivo, que este ano completa 10 anos, deu um novo tom às discussões do tema.
Nesses 10 anos, o Movimento Negro contou com avanços significativos “Um exemplo é o da lei nº 10.639/03, que fala sobre o ensino de História e Cultura da África e dos Afro-brasileiros em toda rede oficial de ensino”, enfatiza Roberta Federico, membro da Associação de Psicólogos Negros (ABPsi, sigla em inglês).
A conselheira do CFP, Marilda Castelar, lembrou que o tema passou a ter mais visibilidade após a criação da Secretaria de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial, em março de 2003, e da adoção das cotas nas universidades por meio da lei 3.708/01. “O marco lógico dos avanços está fora da Psicologia, mas a profissão está em sintonia com esse processo que esta acontecendo”, ressalta.
Sobre a resolução 18/2002, a representante da comissão organizadora do “Encontro Nacional de Psicólogas (os) Negras (os) e Pesquisadoras (es) das Relações Raciais e Subjetividade” (PSINEP), Maria de Jesus Moura, observou que, do ponto de vista da categoria, embora a grande maioria não a conheça, o documento criou um espaço para as psicólogas e psicólogos negros e brancos trabalharem com a temática racial.
Uma das alternativas para aproximar a resolução da categoria é ampliar o debate, e o II PSINEP, que acontecerá entre 21 e 24 de março de 2013, em Recife, será uma oportunidade para que isso ocorra. “Queremos ouvir as pessoas, é necessário ampliar o contato da categoria com a resolução e, com isso, com o sofrimento psíquico provocado pelo racismo”, estima Moura.
A expectativa é que as sugestões para o documento ajudem a direcionar o compromisso da categoria para o cuidado ao lidar com a prática profissional e o sofrimento psíquico originado da humilhação social, fruto de relações raciais desiguais provocadas pelo racismo em nossa sociedade.
Cenário brasileiro
O Brasil possui aproximadamente 97 milhões de negros e pardos, representando metade da população brasileira, que corresponde a 191 milhões, de acordo com dados do Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada de 2006 a 2008, mostraram que houve um aumento progressivo da população negra no país, proporcionado pela ampliação do número das pessoas que se reconhecem como negros ou pardos, fruto da ação do Movimento Negro Brasileiro.
Em contrapartida, a Pesquisa das Características étnico-raciais da População (PCERP), realizada em 2008, revela que para 63,7% dos entrevistados a vida das pessoas é influenciada pela cor ou raça. Esse contexto foi percebido, principalmente, pelo tratamento diferenciado nas dimensões do trabalho, da relação com a justiça e a polícia, do convívio social e da escola.