ANOTAÇÕES SOBRE GÊNERO E FEMINISMO

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Yvisson Gomes dos Santos*

A estrutura da sociedade ocidental, enquanto estrutura social, cultural e ontológica, sempre foi patriarcal, branca e machista. O entendimento do gênero feminino nessa formação conjectural esteve aquém de seu empoderamento (do verbo empoderar, que significa a ação de atribuir domínio ou poder sobre determinada situação), e de suas afirmações e identidades visando à igualdade de gêneros.
 
Desde os gregos as mulheres eram confinadas na esfera privada, cabendo ao homem o domínio público. Somente as prostitutas e sacerdotisas detinham uma fração mínima de poder entre os helenos, por serem instruídas e, também, por serem pertencentes à Paideia, mesmo com algumas reservas do ser político grego, no dizer de Aristóteles.
 
Na Idade Média, a caça as bruxas era premente e instituída pela Inquisição Romana. O sexo feminino mantinha-se numa névoa ora de beatitude, ora de pecado. Eva seduziu o homem Adão dando-nos a morte. Com Maria, mãe de Jesus, ela mata a serpente com os pés e transforma o gênero feminino em castidade, beatitude e santidade. Afora isso, a fogueira a esperava.
 
Na idade Moderna e Contemporânea, a mulher tornou-se força de trabalho barata, nas revoluções industrial e francesa. Como não existia uma identidade social (uma ontologia da mulher), mas uma vez os homens se deram conta de comandar e destitui-la do espaço público. Houve o atear de fogo em 08 de março as operárias trabalhadoras americanas (em 1911), tal como na Idade Média. Essa data simbolizou a ambiguidade de sofrimento e morte das mulheres que desejavam uma jornada de trabalho justa e digna, bem como a necessidade de se reaver quem era essa mulher e seu papel na sociedade ocidental.
 
Grupos feministas foram formados, desde o essencialismo existencialista até as radicalidades benquistas de Judith Buhler. A mulher já não era mais a mesma em sua costumeira aparição em cultos religiosos e o fazer das honrarias da casa, do lar. Apesar do discurso do atual presidente Michel Temer, localizando-a em território determinado, o privado. Duro de engolir quando se vem de um presidente da república, aliás, ilegítimo.
 
Mas algumas boas-novas existiram aqui no Brasil, desde o direito ao voto, bem como delegacias próprias para o gênero feminino. Ainda temos a Lei Maria da Penha, e a caça aos predadores de mulheres através do disque 100.
 
Mulheres, feministas, negras emponderadas estão em construção. Um recente debate sobre a “apropriação cultural” reveste-se de um binarismo cruel, a tentativa de um apartheid cultural, onde coisas de brancas serão sempre de brancas, e de negras, idem.
 
Estamos em devires, mas com uma Constituição de 1988 que possui seu artigo 5º a salvar, pelo menos no texto, a igualdade de gênero, dentre outros. Contudo, as perseguições continuam: a mulher-fetiche, objeto de prazer, recatadas e do lar e negras de senzalas revisitadas nos casarões e prédios de redutos burgueses. Enfim, a luta deve e precisa continuar no sentido de ser emancipar e respeitar o “Segundo Sexo”, lembrando-nos de Simone de Beauvoir.
 
 
*É psicólogo (CRP-15/1795)