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Nota do CFP sobre as afirmações de Dunga durante a “Semana da Evolução do Futebol Brasileiro”

A respeito das declarações dadas pelo técnico da Seleção Brasileira Masculina de Futebol, Dunga, e pelo técnico do Fluminense Football Club, Levir Culpi, sobre a “inviabilidade” do trabalho da Psicologia na seleção brasileira, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) esclarece e contextualiza que a Psicologia do Esporte é uma ciência que desenvolveu, ao longo dos anos, um vasto e denso conjunto de conhecimentos que subsidiam o fortalecimento emocional de atletas e demais profissionais envolvidos no desempenho esportivo, segmento profissional do esporte de alto rendimento.

A posição institucional da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) explicita que a filosofia gerencial está baseada na experiência vivida e no conhecimento adquirido por meio da prática, fato que permeia a contratação e a manutenção da equipe técnica responsável hoje pela coordenação das Seleções Brasileiras de Futebol Masculino.

As dimensões psicológicas da conduta humana (afetiva, cognitiva e comportamental) na preparação de um atleta fundamentam-se nos aspectos ligados às competências e habilidades da Psicologia do Esporte. Eles precisam estar integrados e se constituir mutuamente de forma a promover a saúde integral do ser humano. Para tanto, as competências e habilidades psicológicas necessárias em âmbito de alto rendimento são extremamente refinadas e precisam de preparação, acompanhamento e avaliação constantes. Isso se faz presente nas mais diferentes modalidades esportivas, tendo experiências de sucesso em Seleções Nacionais de Futebol como Alemanha e Inglaterra, coordenadas por ex-atletas.

Fundamentado nos aspectos cognitivos, comportamentais e emocionais, contextualizados socialmente, o profissional da Psicologia do Esporte segue um protocolo de trabalho gerado especificamente para cada modalidade esportiva e população-alvo, considerando peculiaridades individuais. Tal profissional constrói esse protocolo por meio de seu conhecimento teórico e com o uso de testes e técnicas validadas cientificamente para lidar com determinadas situações, englobando elementos entre diferentes níveis de análise – que vão desde aspectos psicofisiológicos, características de personalidade até os mais determinantes fatores psicossociais.

Assim, busca-se alcançar equilíbrio emocional e nível de concentração ideal para bater um pênalti ou reagir a provocações do time adversário, responder a perguntas capciosas de jornalistas e distanciar-se de problemas pessoais e familiares que podem afetar seu desempenho, bem como lidar com a logística dos campeonatos, a hierarquia, a comunicação grupal, o período de pré-temporada, a fixação do período de férias, diferenças culturais, por exemplo.

Faz-se necessário distinguir que o entendimento explicitado pelos técnicos que participaram do debate revelou que muitos dirigentes e treinadores não apenas desconhecem a natureza do trabalho da Psicologia do Esporte como são capazes de comparar a atuação de profissionais qualificados, que levam em torno de 10 anos para se efetivar (entre graduação, especialização, mestrado e doutorado), a práticas de senso comum.

Deixar de considerar a preparação ou treinamento psicológico é ignorar a importância da relação entre os aspectos psicofísicos e psicossociais, determinantes para o alcance dos objetivos e dos resultados esperados pelo atleta ou pela equipe de alto rendimento.

Conselho Federal de Psicologia