Comunidade que vive há mais de 60 anos no local corre o risco de ser removida
O Conselho Federal de Psicologia (CFP), por meio da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Autarquia, emitiu nota de apoio às famílias da Vila dos Pescadores do Jaraguá, em Maceió (AL). A comunidade pesqueira tradicional da capital alagoana luta pelo direito à permanência no território da União, onde vive e trabalha há mais de 60 anos.
O conflito, que perdura mais de uma década, intensificou-se nos últimos anos com as investidas da Prefeitura Municipal de Maceió para a remoção da comunidade do local onde vivem, para em seu lugar construir uma área voltada à atividade turística.
Abrace a Vila
Professores do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Marcos Mesquita e Simone Hunning, desenvolvem um trabalho de pesquisa e extensão com a Vila dos Pescadores do Jaraguá desde 2009. Segundo Marcos Mesquita, a vila é uma comunidade tradicional de pesca em que vivem muitas famílias, pessoas que lá chegaram desde os anos 1940 ou que ali nasceram. São pescadores, pescadoras e pequenos comerciantes.
“É uma comunidade que tem como marca a cultura e a economia da pesca fortemente visíveis em seu jeito de ser, de pensar o mundo, de se expressar. Por conta disso, e com a ajuda de pesquisadores da universidade e outros parceiros, a comunidade iniciou um processo junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) que solicita o registro e reconhecimento das atividades de pesca – sua linguagem e outras características específicas relacionadas a esta cultura – e de construção de barcos como patrimônios imateriais”, justificou Marcos Mesquita.
O professor da UFAL destaca que a comunidade é culturalmente forte, de matriz negra, caraterizada por sua organização coletiva e capacidade de resistência. Mesquita ressalta que, além de tudo, a Vila dos Pescadores do Jaraguá tem uma importância histórica para a cidade: “parte da historiografia afirma que foi por conta da existência de uma comunidade de pescadores e das atividades do porto que, naquele lugar, surgiu a cidade de Maceió. Portanto, essa comunidade simbolicamente é herdeira dessa tradição que se associa ao surgimento da cidade”, complementou.
Marcos Mesquita conta que o movimento “Abrace a Vila” surge em defesa dessa comunidade, e reúne artistas, intelectuais, participantes de movimentos sociais, comunitários e juvenis, sindicatos e partidos, que compreendem a importância da permanência das famílias de pescadores naquele lugar e iniciam uma articulação que, para além de trazer à tona a questão política e emergencial em defesa da vila, promove um debate público em torno da cidade e o que dela querem.
Mesquita destacou a solidariedade de muitas entidades locais, regionais e nacionais, e aponta a importância do apoio do CFP e de sua CDH, que, por entre outros motivos, considera ser a maior entidade da categoria de psicólogos (as). “O CFP representa e expressa as práticas de muitos profissionais que, cotidianamente, a partir de suas diferentes intervenções, lutam por um país mais justo e menos desigual”, reforçou.
Nota
Em um dos pontos da nota de apoio, a CDH destaca que “compreendendo tal situação como uma violação aos direitos dessa comunidade, a comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia vem a público posicionar-se como apoiadora da luta das famílias pela permanência em seu território, pela preservação de seu patrimônio sociocultural e pela proteção aos vínculos comunitários dessas famílias entre si e com o lugar. A remoção forçada desses moradores significa uma violência física e subjetiva irreparável”.
Baixe e Leia a nota na íntegra aqui:
http://site.cfp.org.br/?attachment_id=28985
por ASCOM / CFP