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Moção de Repúdio à Associação Brasileira de Psiquiatria

Nós, participantes do 6° Congresso Brasileiro de Saúde Mental, que congrega diversas categorias profissionais como psicólogos, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais, orientadores educacionais, farmacêuticos, enfermeiros, assistentes sociais, médicos e dentre estes grande parte psiquiatras, acompanhantes terapêuticos, pessoas sob cuidado em saúde mental, familiares, pesquisadores e estudantes, repudiamos veementemente a postagem feita pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em alusão à campanha „Setembro Amarelo‟ que afirma ser o suicídio uma emergência médica e frente a isto “apenas conversar não resolve”, e que há de procurar um psiquiatra dando a entender para os ouvintes/sociedade que este é o único recurso efetivo.
 
Entendemos que esta postagem evidencia o compromisso da ABP com interesses corporativos e de mercado, tornando a temática complexa do sofrimento humano UM nicho de capitalização da categoria. Não nos surpreende, no entanto, pois a referida instituição se posiciona deliberadamente favorável aos retrocessos da Política Nacional de Saúde Mental, que direciona recursos públicos para instituições privadas, de caráter asilar e manicomial, em detrimento dos investimentos na expansão de serviços comunitários públicos como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Estes se configuram, de acordo com dados do Ministério da Saúde, como variável de proteção na prevenção ao suicídio.
A postagem reduz a complexidade deste fenômeno que é humano – com múltiplos condicionantes nos aspectos existenciais, psíquicos, sociais, midiáticos, culturais e também, mas não exclusivamente biológico – a uma captura unilateral por uma disciplina/saber e assim, se contrapõe aos esforços interdisciplinares e interprofissionais de compreensão e atuação no sentido da defesa da vida. Questionamos ainda o fato de tal posição colocar em risco a destinação de expressivos recursos financeiros do Ministério da Saúde para a ação de acolhimento telefônico como estratégia de prevenção ao suicídio. É mandatário enfatizar o crescimento das taxas epidemiológicas de suicídios em sociedades submetidas a políticas neoliberais e de austeridade. Esta evidência tem sido desconsiderada nas campanhas nacionais de proteção a tais pessoas reduzindo a complexidade do fenômeno suicídio a uma condição biológica.
 
Fonte: ABRASME