Construção de um EU Perdido

NOTA SOBRE O EVENTO:

Uma tarde bastante proveitosa aconteceu no dia 15 de junho de 2013 com amigos psicólogos, conselheiros e convidados no Conselho Regional de Psicologia. As palestras foram muito ricas, onde demonstraram um olhar psicológico e jurídico. O evento foi organizado pela UNIPSICO sob a responsabilidade da presidente Izaura Wanderley. Aconteceu de forma organizada, no horário, sem atrasos seguindo rigorosamente toda a programação, onde tudo ocorreu de forma brilhante.  Na abertura da mesa havia por coincidência foram convidados para fazer parte da mesa várias profissionais importantes da área psicológica e ajurídica, onde praticamente todos de alguma forma traziam em sua vivência essa experiência relacionada à temática mediante a questão da adoção. Todos palestrantes se apresentaram com muita propriedade nesse assunto quando a vivência estava numa linguagem simbólica, numa linguagem emocional. Entre uma mesa redonda e outra, depois do coffee break, a Conselheira psicóloga Denise Moreira, aproveitou para declamar uma linda poesia de sua autoria, incorporando o personagem adotado. Numa história real e em forma poética declamou todas as dúvidas que surgem em um determinado momento de quem vive esta história. Vivência totalmente emocional sob a poesia: CONSRUÇÃO DE UM EU PERDIDO. Estiveram presentes ao evendo que foi realizado no Conselho sob o projeto da Conselheira Izaura Wanderley. Participaram a presidente do Conselho Regional de Psicologia Izolda Dias, que fez a abertura do evendo e deu um lindo testemunho. As Conselheiras Denise Moreira e Leônia Tenório, assim como diversos psicólogos estiveram presentes prestigiando o evento que ocorreu no dia 15 de junho de 2013, no auditório do CRP-15: “ADOÇÃO CONSCIENTE: ADOTE ESSA IDEIA”.

 

Construção de um EU perdido”

Não sei se parto ou fico.

Não sei quem eu sou? Se sou um eu perdido ou apenas parte de você.

Um pássaro sem asas, um amanhecer…

Um chão aberto, sem eixo, sem alicerce, um meio entre mim e você.

Não sei se as faces que possuo fazem parte do meu rosto.

Não sei se sou mesmo filho ou metade de um desejo.

Não sei se sou máscaras que possuo ou apenas um elo perdido, uma corrente em chamas, um rosto confuso, uma voz oculta que me remete ao antes e o depois.

Não sei se atendo pelo nome que me deram ou pela voz que ainda escuto e trago em meu inconsciente como sombra de mim mesmo.

Não sei se esta voz até hoje que me retrato, é apenas uma voz ou um eco perdido que ficou preso na escuridão, mas sinto até hoje que estão em ruídos…

Não sei se sou eu ou metade de mim ou mesmo você. Não sei para onde eu vou ou se apenas fico.

Não sei como me chamo ou se tenho algum nome que poderia escolher ou mesmo se tenho algum poder.

Não sei se a cada ação poderia ser medida por mim. Não sei…

Só sei que começo a sentir as minhas verdades como chama ao meu encontro, como lança, como marcas da minha construção. Do que sempre busquei e ainda procuro.

Porque chego à conclusão se sou hoje o que sou é porque a vocês meus pais me conduziram a este complemento, porque me guiam como bússola dos perdidos…

Porque vocês meus pais encontram-se aos vazios que possuo; porque entendo que são mais do que o suficiente para suprir as minhas necessidades, encobrir a minha realidade, mesmo que ainda não tenham total conhecimento de como vim parar aqui.

Não posso ser um mero acaso, muito menos um nada ou um tudo construído. Não posso ser as justificativas que respondem pela minha existência. Não posso ser um elo perdido ou ser maior do que a minha referência. Não posso!!!

Não sei a que ponto me encontro. Só sei que existo e prefiro conviver com essa verdade, independente dessa dura realidade. Embora, muitas vezes me sentir meio perdido.

Que espaço eu procuro???

Sou sentimento que muitas vezes me apavora e me inclina ao mundo dos nãos. Mas sou um ser que dentro das minhas buscas em apuro não sabia se estava no meio de uma verdade ou de uma mentira; se participava de uma realidade ou fantasia.

Quantas vezes me olhei ao espelho procurando pedaços de mim!!!

Quantas vezes me encontrei abraçado ao meu travesseiro como se fosse a minha única companhia, onde as minhas lágrimas confortavam o meu coração amargurado pela dor do abandono e quanto mais perto eu me encontrava na dor, eu me entendia.

Até que um dia pude perceber que aqueles que eu tanto procurava não faziam parte de mim e sim os que estavam ao meu lado, quando sempre me acolheram e isso me bastava.

Quantas vezes sonhei em me ver junto de pessoas que se pareciam comigo, desde o sentar até o sorriso, tudo eu observava em quem se aproximava quando me sentia acuado, um estranho em busca de uma família que a sociedade cobrava e eu sempre me justificava.

Mas cada vez que eu me procurava, retomava e entendia que não era o físico que eu buscava e sim apenas reconhecer os meus pedaços.

Quantas vezes fui explodindo por dentro como se a minha verdade vestisse de uma formação rígida que mais me parecia sem cor, sem elo, sem chama, sem amor, porque a vida para mim muitas vezes me refletia como cinzas, quando não tinha resposta e tudo me aparentava muito sem graça.

Enquanto eu procurava esta realidade no meu “eu perdido” percebi que eu existia como reflexo de minha existência e lá estava fazendo parte de cada um que me escolheu.

Que ao reproduzir a minha história valorizei aqueles que me acolheram e faziam parte de minha identidade, quando fui me identificando como um ser de referência única. Um ser bem maior do que conseguia me enxergar.

Encontrei vocês meus pais!!!

Amigos de todos os momentos, complemento maior, meu tudo, partes de mim, meu amor mais que perfeito.

Encontrei vocês meus pais!!!

Vocês que são a minha construção, o meu pensamento, proposta de amor como ser, como gente, como igualdade e referência, como raça, como além do que eu poderia conhecer.

Encontrei vocês meus pais!!!

…E salvo estou, porque poderia ser tantos, mas hoje sou único!

Salvo estou porque poderia não encontrar a minha parte e encontrei o amor de quem me quis assim!

Salvo estou, porque me encontro com braços para abraçar a minha realidade e porque tenho vontade de abrir o meu coração para dizer que me descobri.

Que fui aceito pela vida, pela humanidade e independente da minha origem, da minha formação, independente se fui ou não jogado ao vento, a vida, ao abrigo; mas fui encontrado pelo destino, por alguém que merecesse participar de todo o meu amor.

Independente de todas as concepções foram vocês meus pais que me escolheram para fazer parte entre o meu interior esculpido pelas indagações, mas principalmente pelo afeto que recebi.

Não há amor maior!!!

Não pode existir, porque me percebo ao lado de alguém que fez de tudo para que eu pudesse viver, ser feliz e poder estar aqui hoje contando os meus sentimentos.

Salvo estou!!!

Como me sinto parte de vocês pais!!!

Como os compreendo hoje, quando em toda a minha história sempre me falaram que eu era “filho do coração”; porque simplesmente eu era amado e, mesmo assim, eu não entendia e, hoje, faço parte desta aliança que se chama VIDA!!!

Como me sinto em vocês meus pais, porque tiveram a sensibilidade de me fazer mais gente do que a metade que eu carregava, sem entender o que significava vocês como os meus pais de verdade, o meu complemento maior. Vocês!!!

Vocês, pais espirituais porque tivemos oportunidade de receber pela luz Divina a oportunidade de estarmos juntos, unidos pela força do amor e não pelo acaso.

Porque são os laços que nos une e nos deixa ao som de sua voz, ao sorriso que passo a repetir como resultado de tudo o que recebi e de tudo que aprendi.

Salvo estou!!!

Porque hoje não me sinto menos eu, menos verdade e menos mentira, só me sinto coberto pela vida.

Encontrei-me!!!

Porque hoje não me sinto sombra da minha própria identidade e sim realidade da minha existência, verdade da minha história, encontro das metades que eu desconhecia.

Porque hoje me vejo em vocês pais, reflexo da minha existência, amor maior, encontro perfeito, o meu tudo, parte de minha vida!!!

*Psicóloga Denise Moreira de Almeida Barbosa

(Autoria da psicóloga Denise Moreira, Presidente da Comissão de Comunicação – CRP-15)

(Especialmente para o evento: “ADOÇÃO CONSCIENTE: ADOTE ESSA IDEIA” – 15-06-2013)